segunda-feira, 3 de maio de 2010

Liberte-se

Era uma noite tão escura quando as estrelas não sorriam no céu que eu mal podia enxergar um palmo a minha frente. Só escutava o som seco das lágrimas que rolavam incessantes pelo meu rosto e a quase inaudível súplica que fazia a quem quer que quisesse me atender: “Me ajude, me ajude, me ajude...” Era só o que eu repetia continuamente.
O aperto no coração era tão familiar quanto o seu sorriso que via em todos os rostos das pessoas que encontrava durante o dia. Cada memória era como uma lâmina penetrando fundo no meu coração.
Eu era qualquer coisa, menos humano, o vazio não era só de sentimentos; era um vazio de alma.
Sentia um frio percorrendo todos os cantos do meu corpo inócuo enquanto olhava o nada se estendendo a minha frente. E nesse nada que eu vi um vaga-lume entrar no meu quarto e parar bem em cima de mim, lá no alto do teto, mas era um vaga-lume estranho, ele não piscava, era só um brilho intermitente.
Fiquei olhando aquele brilho que me cegava tentando entender o que estava lá e por uns minutos pensei que era o brilho que tinha nos meus olhos quando eu te olhava, aquele mesmo brilho que há muito havia fugido de mim me deixando perdido na luz da minha própria escuridão tempestiva.
O vaga-lume não se movia, continuava parado como se me observando e de alguma maneira eu comecei a ter devaneios que me causavam medo. Por muito tempo fiquei encarando o brilho e ele começou a voar novamente, mas não estava procurando a saída e sim descendo para mais perto de mim.
De repente o vaga-lume aumentou de tamanho e virou uma luz intensa e quando o brilho baixou e meus olhos se acostumaram com sua repentina aparição eu a vi; a minha fada madrinha.
Completamente estático eu via cada vez mais nítida a imagem da fada à minha frente e demorei a acreditar que não estava louco.
Podia sentir todo seu perfume de rosas frescas do primeiro dia de primavera e quando ela abriu os doces lábios para falar comigo eu me deliciei com a suavidade de sua fala mansa.
“Doce menino, o que posso fazer para enxugar esses olhos repletos de tristeza?”
Era muito difícil acreditar em tudo o que estava acontecendo e minha confusão se intensificou
"Quem é você? É difícil acreditar"
"Claro que gostaria que desaparecesse, mas eu já desisti - respondi ainda mais rispidamente. E apesar de minhas asperezas a fada permanecia com um meio sorriso e sua fala mansa transmitindo paz e conforto. Sua voz era como o melhor calmante e seus olhos o poço de sabedoria. Estava disposto a acreditar, afinal já acreditara em tantas outras coisas absurdas que mais uma não poderia fazer mais mal. - Preciso de uma prova. Quero que me dê o nome do meu sofrimento."
"Acredito que você não vá gostar de ver o nome, mas vou te dar porque me pediste - e com sua varinha ela desenhou o nome no escuro e ele brilhava como estrelas - DAVI."
"Não entendi nada, ou talvez tenha entendido, mas o que quero é o nome da pessoa por quem estou sofrendo"
Estava cada vez mais impaciente e desejava que ela sumisse tão logo quanto apareceu, mas algo em mim queria acreditar, queria que ela ficasse e me ajudasse. Não me restava nada a não ser ter esperanças de que ela podia.
Dessa vez ela não desenhou o nome com estrelas brilhantes, mas num sorriso fez sua voz ecoar por todos os cantos do quarto e em sussurros eu escutava o nome.
Fiquei estático.
Agora eu acreditava, não tinha como ser diferente. Podia estar alucinando e não duvidava nem um pouco disso, mas esta possível alucinação estava me respondendo e eram respostas que me faziam enxergar algumas coisas difíceis.
"Mas... mas... é tão difícil acreditar - gaguejei - Você é mesmo minha fada madrinha? Daquelas de contos de fada? Você está olhando por mim?"
"Se você acreditar que eu existo, eu existo. E posso te ajudar a se sentir melhor"
" Aceito! aceito! É tudo o que mais quero, é o que eu mais preciso - chorei - mas o que você pode fazer por mim?"
Ela disse que me concederia um desejo e que o escolhesse com cuidado. Eu já sabia o que eu queria e prontamente respondi:
“Eu já sei, fada-madrinha, eu quero uma pessoa que me entenda, que me ame acima de tudo, que me respeite, que cuide de mim, que me faça ser o mais feliz do mundo e que fique comigo para toda eternidade no mais verdadeiro e puro amor”
Ela me olhou, sorriu e voou rodopiante pelo quarto deixando um rastro de estrelas brilhantes como a cauda de um cometa. E então ela girou sua varinha de condão e meu pedido caiu na minha cama, do meu lado.
Fiquei confuso, peguei o pedido e a muito custo desviei meus olhos da chuva de estrelas. O que vi me deixou perplexo
Um espelho.
"Um espelho? - perguntei desolado - Mas por que um espelho?"
O semblante da fada se tornou sério, mas não menos apaziguador, e ela me respondeu com firmeza, mas delicadamente.
“O que você está vendo nesse espelho?”
“O que todos vêem quando olham para um espelho – respondi sem esperanças – meu reflexo.”
"Esse é você. O único que pode mudar sua atual situação. O único que pode te tirar da tristeza, te fazer feliz. Sua felicidade só depende dessa pessoa que está a sua frente; você mesmo. Quem vai te amar acima de qualquer coisa? Quem irá te compreender? Te fazer feliz? Só você, só se você se permitir. Os outros podem lhe proporcionar alegrias ou tristezas, mas só quem pode permitir se isso irá entrar é você mesmo. Você tem o poder, é a pessoa mais importante e capaz de te fazer feliz."
Eu alternava o olhar da fada para o espelho e assim fiquei por muitos minutos.
Ela desceu ainda mais, enxugou uma lágrima solitária no meu rosto, olhou bem fundo nos meus olhos e perguntou:
“Quem é você?”
Subiu rapidamente, voou de um canto para o outro fazendo chover mais estrelas e dando uma gargalhada musicada, e assim ela sumiu, tão rápido como apareceu.
Continua...

Devo primeiramente agradecer a ajuda da minha querida leitora e muito amiga, Anna Fred, que sem sua inestimável ajuda não poderia ter criado esta que considero minha melhor crônica e sem a qual meus dias seriam muito menos felizes.
Também anunciar o vencedor do desafio, que mais se aproximou da resposta que eu esperava e que também me foi fonte de grande inspiração; Jacobs do www.alreadyevil.blogspot.com, o qual eu recomendo.
E por fim dedicar mais esta crônica a todos os meus leitores e amigos que me dão mais uma razão para continuar vivendo e compartilhar estas histórias.
Meu imenso carinho a todos e não percam a próxima!
By Davi e Anna Fred.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Desafio

Amigos e leitores do meu blog.
Hoje vamos começar diferente.
É hora de inovar!
Tive uma semana de revelações importantes que quero contar a vocês, mas antes quero que todos vocês, meus queridos, tentem refletir um pouco.
Esta reflexão os levará ao caminho que descobri esta semana e ah, a estrada, como a estrada a minha frente é bela...
Vou propor uma pergunta, simples, e que requer uma resposta simples. Quem acertar ganha um prêmio, e prêmio bom.
“Era uma noite tão escura quando as estrelas não sorriam no céu que eu mal podia enxergar um palmo a minha frente. Só escutava o som seco das lágrimas que rolavam incessantes pelo meu rosto e a quase inaudível súplica que fazia a quem quer que quisesse me atender: “Me ajude, me ajude, me ajude...” Era só o que eu repetia continuamente. (...) vi um vaga-lume entrar no meu quarto e parar bem em cima de mim, lá no alto do teto, mas era um vaga-lume estranho, ele não piscava, era só um brilho intermitente. (...) De repente o vaga-lume aumentou de tamanho e virou uma luz intensa e quando o brilho baixou e meus olhos se acostumaram com sua repentina aparição eu a vi; a minha fada madrinha. (...) Ela disse que me concederia um desejo e que o escolhesse com cuidado. Eu já sabia o que eu queria e prontamente respondi: “Eu já sei, fada-madrinha, eu quero uma pessoa que me entenda, que me ame acima de tudo, que me respeite, que cuide de mim, que me faça ser o mais feliz do mundo e que fique comigo para toda eternidade no mais verdadeiro e puro amor” (...) Ela girou sua varinha de condão e meu pedido caiu na minha cama, do meu lado. (...) Um espelho.
Este pequeno texto acima é um extrato da crônica que publicarei no domingo. Até lá temos dois dias para vocês responderem a pergunta.
Por que ela me deu um espelho?
Domingo eu falo quem ganhou o prêmio.
Respondam!!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Raízes

Não escrevi semana passada porque a criação desta crônica me levou mais tempo, queria ter um tempo maior para pensar e amadurecer algumas idéias e pensamentos, colocar alguns sentimentos em ordem e transmiti-los de uma maneira mais acurada.

Continuo tomando meus antidepressivos, não que eu ainda esteja tão mal a ponto de precisar deles, mas eles me ajudam a pensar.
Eu não achei a pessoa que vai me ajudar a ser feliz, aquela pessoa com quem dividirei a vida, por quem eu darei a minha própria vida.
Não tinha mesmo esperança de achá-la em duas semanas, não tinha ao menos esperança de sequer achá-la, mas nunca desisto de procurar.
Olhos abertos e coração pronto para outra.
Ainda não superei o trauma do último término, mas isso vai acabar amanhã, o teste final está por vir e eu sei que passarei por ele, ainda mais forte do que antes.
Nessas duas semanas fiquei me perguntando o que nos leva a cometer tantos erros, a aceitar coisas que sabemos que não são boas, a nos relacionar com pessoas que não vão nos trazer nada, mas sofrimento.
Cometi muitos erros tão conhecidos por mim que sinceramente não sei por que ainda os cometo, mas também acertei em pontos que errava antes. Já é um progresso.
Encontrei pessoas que me fizeram curtir a noite e por uma delas eu pensei ser válido uma tentativa.
Não deu certo.
Mas eu não me decepcionei, não sei se foi por que aprendi ou por que já estou decepcionado demais.
Conheci e me relacionei com pessoas totalmente inúteis para mim, mas valeu o momento.
Tive muitos momentos de reflexão, que vieram de um encontro totalmente inesperado, surreal, mas que me fizeram entender muitas coisas que eu não acreditava serem passíveis de compreensão, e hoje são esses momentos que quero compartilhar com vocês.
Era domingo, o dia estava lindo com o sol brilhando na imensidão azul de um céu sem nuvens, eram sete e meia da manhã e eu tinha acabado de sair de mais uma balada onde tinha experimentado várias pessoas diferentes e não encontrado nenhuma que me fizesse esquecer o sofrimento que estava passando.
Tinha me despedido do meu melhor amigo dispensando-o do combinado que era ele ir para minha casa dormir comigo. Ele ficou triste, mas eu precisava ficar sozinho. Mais sozinho.
Sentei no gramando de uma praça perto da balada, muitas pessoas caminhavam, corriam e faziam seus exercícios matinais, vi muitos casais, jovens e não tão jovens, passeando de mãos dadas e sorrindo. A visão partiu meu coração.
Abaixei a cabeça e comecei a chorar,, não um choro desesperado, mas um choro de tristeza em que as lágrimas rolavam incessantes e silenciosas pelo meu rosto cansado e deprimido.
Não percebi a aproximação daquele anjo até que senti sua mão repousar sobre meu ombro e sua voz, doce, calma e zelosa falar comigo.
“Por que está chorando? Lágrimas não ficam bem em um rosto tão bonito”
Eu apenas olhei, dei um singelo sorriso, não sabia o que dizer para aquela estranha senhora que falava comigo. Pensei em levantar e ir para longe da intromissão daquela pessoa que nem conhecia, mas algo me impediu e eu respondi:
“Ah, não é nada, vai passar, são só problemas”
Fiquei ainda mais surpreso quando ela se sentou ao meu lado, no chão, e me passou os braços sobre o corpo, me envolvendo em um abraço tão acolhedor que jamais senti algo parecido.
Agora as lágrimas tinham som e eu soluçava e tudo o que a senhora fazia era me abraçar. Me entreguei àquele momento e senti toda a paz de seu abraço, da sua amizade e carinho, daquele gesto tão peculiar e inusitado.
Ficamos assim não sei por quanto tempo e ela não proferiu palavra alguma, apenas me abraçava, então senti uma ânsia enorme de desabafar tudo o que estava dentro de mim.
“Eu não agüento mais passar por todos esses problemas que tenho enfrentado, todas essas decepções. Eu penso em desistir de tudo, de todos e acabar com todo esse sofrimento de uma vez por todas. Eu sinto tanta falta dele.”
Ela me encarou por vários minutos e apesar de eu estar chorando aquela presença me transmitia uma paz que nunca mais queria perder. Então, depois de muito tempo, ela falou:
“Em um certo dia de primavera dois passarinhos voavam livremente por um belo campo e cada um deles trazia uma sementinha em seus bicos. Eles as depositaram lado a lado no vasto solo verde do belo campo e voaram pra bem longe. As sementinhas penetraram na terra e uma delas, de samambaia, cresceu tão rápido que logo se podia ver muitas mudas por todo o campo. Os passarinhos voltavam todos os dias para o campo e o que plantou a sementinha de samambaia chilreava feliz dando rodopios em seu vôo elegante e o outro só olhava, lá do alto.E nem sinal da outra sementinha. Passaram-se algumas semanas e o vasto campo foi todo tomado por mudas lindas de samambaias verdes e fortes, mas nada da outra sementinha. Até que um dia, bem no meio do mar de samambaias, podíamos ver uma mudinha, pequenina e frágil, crescendo lentamente. O pássaro que antes voava silencioso começou a chilrear. E assim foi por muitas semanas, as samambaias cresceram mais e mais tomando todo o campo e todo o horizonte e a mudinha, antes pequenina no meio da floresta de samambaias, cresceu para se tornar um belo e forte bambu. Os passarinhos estavam felizes da vida e o dono das samambaias se gabava de ter uma floresta enquanto o outro só tinha um bambu. Um dia veio uma tempestade, cheia de raios e trovões, e um vento forte passou pelo belo campo arrancando todas as samambaias que estavam lá. O bambu balançou, perdeu algumas folhas, quebrou alguns galhos, mas não caiu. Quando a tempestade passou só se podia ver o bambu e as folhas mortas das antes lindas samambaias por todo o belo campo. As samambaias cresceram rapidamente de novo, mas toda vez que passava uma tempestade acontecia a mesma coisa; as samambaias morriam e o bambu, embora machucado, continuava lá, solitário, mas firme.”
Eu fiquei vários minutos tentando entender como aquilo fazia algum sentido com o desabafo que tive com a velhinha, e ela percebendo minha dúvida logo explicou:
“Meu filho, as samambaias cresceram rapidamente e tomaram todo o campo só para elas, mas toda vez que vinha uma tempestade elas eram levadas e morriam e sempre cresciam da mesma forma rápida e morriam de novo com uma nova tempestade. O bambu levou mais tempo para crescer porque ele estava criando raízes profundas e fortes, assim quando a tempestade chegava ele se machucava, perdia algumas partes, mas não caía. É a mesma coisa com a nossa vida, meu lindo menino, nós não podemos crescer rápido e desordenadamente porque até podemos construir um belo campo, mas quando a tempestade vier tudo será levado, temos que ser como o bambu, que não teve pressa e criou raízes capazes de enfrentar a tempestade e sobreviver a ela. Pense que se você fracassou desta vez é porque não tinha a raiz necessária para agüentar essa tempestade, mas agora que é mais experiente e aprendeu, criará raízes para ficar mais forte e não cair quando a próxima tempestade vier. E a cada tempestade suas raízes ficarão mais e mais fortes, assim como você”
Ela se levantou, me deu um beijo no rosto e se foi.

domingo, 11 de abril de 2010

Percepções.

E, sentado em uma calçada qualquer, de um lugar distantemente perto, fumando um cigarro e bebendo qualquer bebida que já nem me lembro mais, eu decidi que não quero mais ver seu sorriso.
Percebi que alheio à minha dor um amanhecer é mais poético que a escuridão, que você me faz tanto sentido quanto a dúvida que permeia a longitude do universo e que já não gosto mais de mistérios.
Vi que seus braços não eram tão confortáveis quanto a paz de espírito que hoje insiste em me deixar com um sorriso no rosto.
Aprendi que amar é diferente de gostar, que é diferente também de sentir carinho, e que você não me deu nada disso.
Observei que o que sinto por você não é raiva, nem rancor, nem indiferença, mas uma bela e algoz diferença.
Sonhei que estar ao seu lado me faria tão feliz que poderia começar a desejar viver esta infelicidade para todo o sempre.
Procurei motivos, razões e alternativas para tentar explicar a doçura inexplicável do sentido de viver.
Perdi a vontade de morrer a minha insanamente doce vida e também de viver a bela e almejada morte.
Comparei seus olhos com o brilho das estrelas e por cometer este disparate elas me cegaram com os outros olhos para eu enxergar o que é brilho.
Entendi que tentar explicar a lucidez da minha loucura seria uma tarefa não mais fácil do que contar as gotas de chuva de uma tempestade.
Não me importei com coisas que realmente não me importam e por ter me importado sinto que fui tolo por me importar.
Assisti a festa da sua morte dolorida com tanto prazer até eu me regozijar com a percepção que o assassinato cometido era a minha própria vida.
Lembrei de não ter te contado que não poderia parar com as minhas infantilidades porque o que eu mais precisava naquela hora não era de um amante, mas de um pai.
Implorei para que você não me deixasse do modo como deixou, fazendo com que a minha vida se desmoronasse na mais impura felicidade.
E foi ali sentado no mesmo lugar de lugar nenhum que eu fiz minha escolha de dor e alívio.
Eu escolhi viver e não só existir, foi ali que percebi que não sou perfeito e nem imperfeito, mas qualquer coisa entre isso.
Ali mesmo que encontrei olhos tão diferentemente iguais aos seus me fitando.
Os vi se aproximando com a mesma vontade que vi quando você se aproximou.
Escutei as mesmas palavras de incredulidade quando aqueles outros olhos viram minha imprudente beleza.
Senti o mesmo calor quando te conheci, vi a mesma química acelerando meu coração, senti um beijo tocar meus lábios, diferente do seu, mas não menos deliciosamente falso.
Também peguei o telefone daqueles olhos brilhantes como a escuridão na esperança de vê-los novamente.
Escutei uma voz que parecia vir do além. Baixa e ininteligível no começo, mas mais clara ao ponto que apertava os olhos e apurava os ouvidos buscando-a na tentativa de entender o significado de suas palavras e sua origem.
Pedi um minuto para os olhos brilhantes e procurei pela voz.
A achei em um canto perdido do lugar nenhum e ao achá-la pensei que tinha finalmente perdido por completo todo o resto de sanidade que achei ter.
Confesso que não consegui achar palavras para descrever para vocês o que senti quando vi quem estava falando comigo, afinal já ouvi pessoas dizendo que falam com espíritos, o diabo e a Virgem Santa, mas nunca ouvi alguém dizendo que teve uma conversa com o próprio coração.
É, era meu coração falando comigo, estranhamente insano, mas faz sentido.
“O que queres de mim, nobre coração?”
“Quero dizer-te que estou pronto, mas que não me partas novamente com os mesmos erros.”
“Estou perdido, não sei o que fazer, coração.”
“Lembra-te o que ela te dissera”
É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. (Clarice Lispector).
“Mas eu não entendo, amado coração, como saberei se é ele?”
“Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento. Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Eu sou uma pergunta.”
E assim ele se foi, deixando-me na solidão de sua companhia. Pensei em qual seria a pergunta que ele é, e encontrei a resposta tão rápido como um raio.
Será que desta vez eu achei?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Um doidivanas

Muitas pessoas vieram me perguntar o que é ser um doidivanas.
Segundo o dicionário um doidivanas é uma pessoa imprudente, estouvada, leviana.
Uau!
Sou um doidivanas?
Domingo a noite tinha acabado de voltar da casa de uns amigos onde fizemos um churrasco regado a bebidas, risadas e jogos de baralho.
Chego em casa e ainda estou tonto. Bebi demais.
Tomo um banho e nem me dou o trabalho de me vestir antes de me esparramar na cama.
Sinto uma onda de dor fulminando meu peito.
É uma dor conhecida, selvagem, feroz.
É a saudade.
Choro compulsivamente. Fico me perguntando o porquê de tudo o que está acontecendo, o porquê me deixou, o porquê sempre fico assim e nunca aprendo nada. Fico assim, inconsolável, por vários minutos. Pensei em entrar na internet e procurar alguém para conversar, mas escolho ficar sozinho tentando buscar algo que me fizesse ficar mais forte, que me ajudasse a enfrentar.
Lembro de uma frase de Clarice Lispector que retrata bem o que tem sido minha vida e a maneira pela qual luto por ela.
"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite."
Consigo pegar no sono depois de muito esforço. Durmo pouco e mal. A segunda-feira chega e tenho que trabalhar. Toda a vontade do mundo me falta. O chão me falta. O ar me falta. Falto-me a mim mesmo.
Ligo para minha médica e peço a ajuda dos sagrados antidepressivos que há muito tinha decidido não mais tomar, mas estou sem forças, preciso de uma muleta que me ajude a andar.
O problema de fazer o uso de antidepressivos é esperar que eles venham por si só resolver seus problemas.
Eu não penso assim. Eu sei que só eu posso resolver meus problemas, mas preciso de ajuda e essa ajuda o remédio me dá.
A psiquiatra me indicou um antidepressivo que tem ajudado muitas pessoas, com uma fórmula revolucionária e que tem poucos efeitos colaterais. Segundo ela, os resultados aparecem em três dias.
Começo a tomar e, quase instantaneamente, me sinto melhor. Vejo as coisas com mais clareza e tenho mais disposição para enfrentar mais uma batalha.
Bethânia disse “(...) não me importa saber se é terrível demais, quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz? E amanhã se esse chão que eu beijei for meu leito e perdão, vou saber que valeu a pena delirar e morrer de paixão.”
Passo os dias temendo e ansiando o feriado prolongado que batia à minha porta.
Temia porque não queria sentir tudo o que estava sentindo de novo, não queria pensar no que meu ex estava fazendo e com quem ele estava. Não queria deixar de sair por medo de encontrá-lo, mas essa possibilidade me gelava os ossos.
Ansiava porque precisava descansar, precisava aproveitar meu estado de ânimo para me divertir de verdade, precisava encontrar alguém para dividir minha felicidade.
E ele chegou. Quinta-feira à noite, véspera de feriado e eu vou pra balada.
Hoje não me importa se vão olhar para minha bunda antes de olharem para o meu rosto, na verdade hoje eu quero isso, hoje eu quero curtir.
Coloco uma roupa legal, me perfumo e arrumo meu cabelo. Olho no espelho e gosto do que vejo, estou pronto para sair e só curtir a noite, ficar por ficar e nada de me apegar.
Chego na boate com meus amigos. Só tem a gente lá dentro, literalmente, e fico impressionado por não ter desanimado por isso.
O remédio é bom mesmo.
Começo a beber, cerveja, caipirinha e mais as coisas que estavam bebendo e me ofereciam. Nem sei o que eram.
O lugar começou a encher, de uma hora para outra, e logo percebia olhares na minha direção. Alguns me atraiam e outro não.
Continuo dançando e logo um chega.
Novinho, bonito, um sorriso lindo.
Pergunta se estou sozinho. Digo que sim. Ele fala que quer me conhecer melhor.
Eu digo não.
Espera um pouquinho, como assim diz não? Ele não era bonito? Eu não queria curtir?
Estava me divertindo tanto com meus amigos, tão relaxado de não estar sentindo aquele desejo insano de estar com alguém que não queria estragar esse meu momento.
Não passei um segundo da minha noite me torturando pelo ex, não estava nem aí que não beijei ninguém, fiquei é muito feliz por ter me encontrado e ter conseguido me divertir sem precisar de um corpo alheio.
Bebi demais e fui embora carregado, literalmente, por um amigo e minha mãe que foi me buscar.
Maior mico a mamãe chegando na porta da balada para pegar o filho bêbado.
Agora respondo a pergunta que fiz no começo dessa história.
Eu sou um doidivanas assim como todos nós somos.
Saímos e bebemos demais mesmo sabendo que no outro dia nosso corpo vai protestar veemente pelo o que fizemos. Sabemos que teremos uma baita ressaca física e moral, mas mesmo assim bebemos.
Beijamos alguém que não necessariamente nos agrada por completo só para não ficar sozinhos. O ser humano não vive sozinho. Precisamos interagir.
Nos apaixonamos por pessoas que sabemos que não nos completa e explicamos os erros deles na vã esperança de que vão mudar, mas mesmo assim tentamos.
E por que fazemos isso?
Porque essa é a vida, não necessariamente fácil, mas divertida.
Cheia de erros e acertos, vitórias e derrotas, felicidades e tristezas.
Cheia de tudo e cheia de nada.
Superei mais um término de relacionamento e estou preparado para superar mais um, se assim for preciso, porque sei que um dia eu acerto, ou me acertam, ou não. Sei também que meu querido amigo Lucas Trevisan está certo quando diz que “Decepção não mata, ensina a viver.”
E é verdade!
Obrigado pela visita e comentem!
By: Davi.

domingo, 28 de março de 2010

Quem sou eu?

Semananinha braba essa que passou.
Chorei.
Senti o coração apertar.
Me arrependi de milhares de coisas que fiz na minha vida como um todo.
Torturei minha mente pensando em coisas tão fúteis que agora até acho certa graça.
Fiz muitas coisas das quais não me orgulho.
Me arrependi por várias outras que deveria ter feito.
Mas o que mais me perturbava eram as perguntas que eu não conseguia responder.
Se sei que é errado, por que faço?
Se sabia que não daria certo, por que comecei?
Se não era o que queria, por que fiquei?
Se sabia que minhas atitudes levariam ao mesmo fim, por que tomei o mesmo caminho?
Analisando o que meus amigos passaram vi que de certa forma todos passamos por esses questionamentos, e poucos de nós sabemos as respostas.
E há um certo quê de mistério em torno disso tudo.
Os que sabem, não contam.
Os que dizem saber, não sabem.
E os que acham saber, só se enganam.
Recebi tantos conselhos que poderia montar uma loja e vender alguns deles.
Não que tenham sido todos inúteis, mas é difícil saber o que é verdade e o que não é em tudo o que as pessoas falam.
Percebi também que muitas das pessoas (nem todas, mas a maioria) que me davam ombro para chorar seguiam aquela regra da vida de faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.
Falar realmente é muito fácil.
Diziam que o tempo vai curar o que estou passando, que é só uma fase, que eu preciso fazer isso, aquilo e não sei mais o que.
Disso eu sei, qual a novidade?
Agora quero ver se alguém é capaz de me dar o como fazer.
Tirando alguns conselhos que me foram muito úteis, resolvi que o melhor a fazer seria me isolar e responder as perguntas que tinha.
Sozinho.
Acho que esse momento foi o divisor de águas no meu momento.
Desta vez citarei uma frase de Friedrich Nietzsche, muito pertinente para, finalmente, contar-lhes como comecei a me libertar.
(Sim, estou livre).
“A fórmula da minha felicidade: um sim, um não, uma linha reta e um objetivo.”
Começarei explicando o que é o “sim” da história toda.
Fiz uma pergunta a mim mesmo antes de começar a análise mais profunda.
Quem sou eu?
Pelo perdão da expressão, mas PUTA QUE PARIU que perguntinha difícil.
Vamos lá.
Pensei com muita calma, com muito nervosismo, com muita ansiedade e com muita raiva antes de chegar à resposta, mas cheguei.
Certa vez em uma sessão com uma psicóloga ela pediu que eu citasse os meus defeitos e minhas qualidades.
Como é o normal com quase todas as pessoas foi mais fácil citar meu defeitos, mas ela me ensinou a me fazer duas perguntas cruciais para entender quem eu realmente sou:
Vou começar com a primeira pergunta: Por quê?
Sou ciumento porque tenho medo de perder quem eu amo.
Sou inseguro porque tenho medo de perder quem eu amo.
Esses são os dois maiores defeitos que tenho quando me relaciono com alguém.
Agora vem a segunda pergunta: Posso mudar?
Aí entra o sim da citação de Nietzche.
Vi que as minhas maiores preocupações eram em querer mudar a realidade das coisas.
Como mudar?
Não querer que as pessoas sejam o que eu quero que elas sejam, mas ao invés disso me relacionar com pessoas que tenham os mesmos interesses e objetivos que eu.
Selecionar!
O não da história posso resumir em um pensamento, simples e verdadeiro:
Não vou mais me torturar por pessoas que não merecem.
Não vou mais me torturar por coisas que estão fora do meu controle.
Não vou mais me torturar por nada que não contribua para minha busca da felicidade plena.
A linha reta é o caminho que tracei para mim mesmo.
Sem desvios e interrupções.
Sem inutilidades e aflições desnecessárias.
Sem sofrimentos causados por mim mesmo.
O objetivo?
O mesmo que todos têm: Ser feliz.
Concluído esse processo de análise eu percebi coisas que antes estavam subentendidos, que na verdade sabia que existiam, mas que não conseguia enxergar claramente, conscientemente e que até pode parecer presunção, mas quem realmente me conhece sabe o que estou dizendo.
Sou uma pessoa diferente dos padrões atuais.
Não procuro uma pessoa que me dê prazer momentâneo até eu achar outra que seja mais bonita, que tenha um corpo melhor, que tenha mais dinheiro ou que tenha qualquer outra coisa melhor do que a que estou.
Eu quero crescer ao lado de uma pessoa.
Eu quero preparar meus jantares a luz de velas.
Eu quero mandar rosas no trabalho do meu amor para alegrar mais o seu dia.
Eu quero comprar uma caixa de chocolates.
Eu quero escrever um bilhete dizendo “Eu te amo” todos os dias da minha vida.
Eu quero compartilhar minha felicidade e minhas tristezas.
Eu quero alguém para completar, não subtrair e nem anexar.
É muito difícil achar essa pessoa.
Perdi as esperanças?
De maneira alguma.
Para finalizar quero agradecer todas as pessoas que estão acompanhando meu trabalho e meu processo de busca pela tão sonhada felicidade.
Aos meus amigos meu infinito carinho.
Aos meus leitores meu muito obrigado pelo carinho e pelos comentários.
Aos leitores que me enviaram suas história, saibam que as li e vou escrever.
Semana que lhes contarei uma história vivida por um de meus leitores que sofreu muito, mas, assim como eu, aprendeu que há sempre um aprendizado e que devemos nos ater a ele da forma mais voraz que podemos para, assim, não cometermos o mesmo erro novamente.
By Davi.

domingo, 21 de março de 2010

Análise

Como é difícil terminar um relacionamento.
Eu depois de muita análise percebi que nem mesmo gostava tanto dele assim.
Não acredito que os opostos se atraem. Uma hora ou outra as diferenças vão ser tão gritantes que nenhum dos dois vai conseguir suportar.
Estou me sentindo um idiota e essa tortura inútil parece cada vez mais consumir minha tão sonhada paz interior.
A faz ficar bem mais distante, se querem saber.
Não fico me sentindo assim por ele ter terminado comigo, mas não vou mentir que o pensamento de que ele está dividindo o corpo que era só meu (acho) há alguns dias com outras pessoas me dói muito.
E esses pensamentos parecem não dar trégua.
Fico assim por mim mesmo. Por saber que o principal problema está em mim mesmo, e para assim expressar perfeitamente o que sinto tomo a liberdade de citar Machado de Assis em uma das frases de mais impacto na minha vida.
“Se só me faltassem os outros, vá. Mas falto-me a mim mesmo e essa lacuna é tudo”.
Passei o final de semana inteiro com o tão familiar aperto no coração. Com os torturantes pensamentos sobre o que ele estaria fazendo, com quem ele estaria e em quem ele estaria pensando.
Saí com os amigos, muito mais para ocupar minha cabeça ou para bem dizer a verdade, beber até esquecer de tudo na esperança de que quando voltasse a sobriedade eu teria superado tudo o que estou passando.
Essa fuga dos próprios problemas é a mais cruel de todas as covardias.
Por que não enfrentar os problemas de frente e resolvê-los de uma vez ao invés de tentar inutilmente escapar do que não se pode?
Essa atitude me inflige a inteligência. A racionalidade.
Na sexta-feira fui a um bar com o mesmo amigo da semana passada.
Chego e ele está com duas meninas, amigas dele.
Uma me devora com os olhos.
Não entendo, mas ela diz que beijar um gay é como beijar dois homens ao mesmo tempo e que ela não se importava com isso.
Muito bem. Ela é bonita e me atrai, então por que não?
Mais uma fuga besta, mas não posso fazer nada. A carência é maior do que a razão e as sensações me dominam.
Fico com ela.
Trocamos carícias.
Nos beijamos bastante e até combinamos de nos encontrar novamente.
Não vai acontecer, tanto eu quanto ela sabemos disso.
O saldo da noite foi uma conta altíssima dada a quantidade de álcool que nem eu achava ser capaz de consumir, mais uma ficada completamente ilusória de brinde.
Volto para casa anestesiado, mas ainda sinto o aperto, afinal meu coração mesmo bêbado, ainda está dentro de mim.
Vou direto para cama, sem nem ao menos me preocupar em tirar a roupa que estava.
Sonho com ele.
No sonho eu chegava no trabalho dele. Tinha ido pegar um óculos meu que estava com ele (eu nem tenho óculos sonho idiota) e quando ele chega para falar comigo eu falo coisas absurdas, o xingo de todas as maneiras possíveis, o humilho e o faço descer ao mais baixo nível conhecido.
Acordei agitado, dormi três horas. Estava acabado, exausto.
Passei o resto do dia com uma vontade imensa de chorar, mas não conseguia.
Meu amigo chega.
Vamos ficar bebendo a noite inteira.
Não quero balada, de novo.
Me arrependi muito disso mais tarde.
Estava triste, sem vontade de nada e meu amigo percebeu.
Me incentivou a chorar, mas eu não conseguia.
Uma amiga no MSN tentou de todas as formas me ajudar a chorar, a descarregar o que eu sentia, mas simplesmente não vinha, as lágrimas estavam represadas.
Agora, muito mais calmo e depois de ter descoberto um método excelente de acabar com a tortura que nós mesmos nos infligimos (calma que vou contar exatamente como se faz), estou mais aliviado e com o coração leve e devo grande parte disso a um anjo na minha vida que merece umas linhas desta história, não teria como deixá-la de fora, já que ela é protagonista na minha vida.
Fernanda, meu anjo, já fui seu anjo também, e já fui apaixonado, mas nem toda essa distância que nos separa é capaz de impedir com que eu sinta o calor do seu amor que tanto me conforta e protege.
Voltando à história.
Depois de ter chorado demais, peguei o telefone e liguei para ele.
Chorei.
Implorei.
Disse que o amava.
Disse que não podia viver sem ele.
Ele recusou e disse que já tinha ficado com outra pessoa e que sairia hoje de novo e que quer liberdade de ficar com quem ele quisesse, que nós dois não existe mais e que não dá mais certo.
Poucas coisas me machucaram tanto na vida quanto escutar aquelas palavras.
O xinguei de tudo o que eu podia, descarreguei toda a minha raiva.
Acabou meu sábado, mal consegui me agüentar.
Novamente recorri ao álcool.
Dormi e a noite inteira e nem me lembro com o que sonhei.
Acordei e fui ler um texto que a Fernanda me passou.
Chama-se “The Work”.
Ele nos ensina através da análise a nos libertar dos pensamentos que nos torturam e a aceitar a realidade como ela é e não como gostaríamos que ela fosse.
Através de um exercício e quatro perguntas, mais uma inversão, conseguimos ver claramente que a grande tortura parte de dentro de nós mesmos e que todo o sofrimento que sentimos nos é causado por ninguém mais do que você próprio.
Fiz o exercício e analisei todas as coisas que me incomodavam.
Percebi que não é só ele que tem desejo por outros homens, eu também tenho.
Percebi que quem mais sofria com todo o ciúme que eu tinha era eu mesmo.
Percebi que se eu viver sem essa raiva, angústia e decepção que sinto em relação ao que aconteceu comigo, eu seria uma pessoa melhor, teria paz e viveria mais feliz.
Mas o mais importante de tudo, é que aprendi a querer ter eu mesmo como peça chave na minha felicidade e que não dependo dos outros para ser feliz.
Isso não quer dizer que eu queira morrer sozinho, ou que nunca mais vá me relacionar e me entregar a ninguém, só quero dizer que aprendi a ser feliz pelo o que sou e a ter que aceitar a realidade como ela é, não preciso aceitá-la, mas também não posso querer mudá-la, aprendi que a realidade é imutável e não há nada que possamos fazer para mudar isso, as coisas são o que elas são.
O que posso fazer é tentar compreender as pessoas, não me torturar mais, gostar mais de mim para me dar a possibilidade de gostar do outro, dar uma chance de amar a vida como ela é e nunca desistir de buscar a pessoa, que do jeito dela, vai completar a minha existência.
Aprendi que viver é ser feliz e que não podemos nos dar o direito de nos roubar esse bem tão valioso.
Lute!
By: Davi
Comentem! E obrigado pelos comentários da crônica anterior.

domingo, 14 de março de 2010

E lá vou eu outra vez...

Sabadão e estou aqui, em casa, com um copo de whisky numa mão e um cigarro na outra, o MSN ligado combinando com os amigos qual será a boa da noite.
Balada.
Mais uma vez.
Não que eu não goste, mas me incomodam os olhares vorazes de quem olha pra tua bunda antes de olhar tua cara.
Fazer o que, como diz um amigo, é o que tem pra hoje!
Tomo banho, arrumo meu cabelo, passo um pó para esconder as marcas de um rosto jovem que se sente velho.
Tenho 25 anos, mas a vida de um cara velho assim não é exatamente fácil num lugar onde a jovialidade é a sua principal beleza. Você pode ser inteligente, ter visitado outros países, conhecer as escrituras de Nietzche e Schopenhauer, ter lido Dostoievski e Platão, mas a moda é ser jovem e fútil, ter conteúdo não é mais opção.
Ok.
Fazer o que?
Vamos seguir o fluxo, não que isso seja bom, mas também preciso de alguém.
Chego na balada e o lugar está cheio, como sempre, nem mal dei dois passos e alguém, descaradamente, me passa a mão.
Comecei bem.
Minha bunda ainda faz sucesso.
Caminho entre as pessoas, olhos de águia procurando uma presa, confesso que mesmo sabendo que é quase inútil, ainda tenho a esperança de achar um colibri no meio do bando de urubus.
Meus olhos cruzam com os de um menino.
Ele olha de volta.
Parece legal, bonito.
Olho para o corpo dele, eu não sei se sou igual aos outros ou a vibe do lugar que faz com que você tenha quase as mesmas atitudes.
Não me importo.
Vamos seguir o fluxo.
Continuo andando, passo pelo monte de corpos suados, uns já até estão despojados de algumas de suas vestes, exibindo seus corpos suados e de linhas nem sempre bem torneadas.
Ok, está calor, mas por favor, mantenhamos o pudor.
O cheiro de homem impregna o lugar. Não, não de homem, de sexo!
Vou pegar outra bebida e esse é o primeiro final de semana que a nova lei antifumo está em vigor.
Tenho que ir lá fora fumar.
Saindo eu vejo o mesmo garoto que olhei antes.
Ele me olha de novo, eu retribuo, sorrio.
Pego na mão dele e ele me puxa e me beija intensamente, como um casal apaixonado que se reencontra depois de um ter ficado semanas fora trabalhando.
Passamos a noite inteira juntos. Cantamos músicas um no ouvido do outro. Ele diz que não acredita que está ficando comigo, que sou lindo demais, que sou o anjo dele.
Eu acredito afinal o que mais me resta fazer?
A noite passa rápido e eu aproveito cada momento, cada beijo, escuto cada palavra proferida com o coração batendo acelerado.
Poucas horas e estou apaixonado de novo. Nessas horas que penso ser o cara mais idiota do mundo, sempre me dei mal com essa minha atitude auto-destrutiva que é mais uma afronta insana à minha inteligência, mas ele é tão bonitinho. Irresistível.
No táxi para casa vou pensando no lindinho de 19 anos (tenho queda pelos novinhos) que prometi telefonar no dia seguinte. E já estava ansioso para ligar e tê-lo mais uma vez nos meus braços.
Já planejava qual cor seria o terno que usaria no casamento com ele.
Exagerado? Pode ser, mas sou capaz de jurar que penso assim todas as vezes que encontro alguém novo.
Burro? Talvez.
Ainda prefiro pensar que só tenho a deficiência de ser um sonhador compulsivo.
Como disse Quintana no seu homônimo poema chamado Esperança “(...) meu nome é ES-PE-RAN-ÇA”
Encontro com ele diversas vezes ao longo da semana, mesmo ele morando em uma cidade vizinha e nenhum de nós termos carro, damos nosso jeitinho.
Cada dia me apaixono mais e já penso em namorar.
Sábado chega e está combinado de nos encontrarmos na mesma balada. Espero algumas horas e ele chega. Beijo-o calorosamente. Ficamos assim por um bom tempo e decido partir para a conversa final.
- Não quero mais ficar com você! – disparo-lhe as palavras com a intenção premeditada de causar impacto.
Ele me olha espantado e pergunta:
- Não quer mais ficar comigo?
Era capaz de jurar que vi os olhinhos dele se encherem de lágrimas.
- Não – manti a firmeza na voz. Não queria estragar a surpresa – Você quer namorar comigo?
Ele sorri e me abraça. Olhando nos meus olhos me diz que sim.
Decidimos sair da balada e ir para minha casa consumar o relacionamento.
Que sexo! O melhor que já fiz! Estava mais e mais apaixonado.
Com o passar dos dias já começaram as brigas. Sou ciumento. Muito ciumento. Doente.
Ele quer sair de madrugada com os amigos. Não, namorado meu não faz isso.
E lá estava eu cometendo os mesmo erros de novo. Tento me controlar, mas não consigo, e no auge da briga ele diz: “Eu te amo”.
Derreti e paramos de brigar. Ai, que bom é ouvir essa frase.
Duas semanas de namoro. Três que o conheço. E já nos amamos.
Lindo!
Acho interessante essa versatilidade dos jovens em amar alguém e dois dias depois não amar mais. Se seguirmos a linha de raciocínio da modernidade seremos capazes de entender, afinal se a vida é cada mais rápida, porque os sentimentos não o podem ser?
Boa pergunta, mas sem a loira bonita do comercial de cervejas. Pena.
Nos meses que seguiram trocamos muitas carícias, brigamos muito, terminamos uma vez para dar o tempinho de pegarmos outros corpos, e depois de 10 dias retomamos o amor, inabalável, por assim se dizer.
Viajamos, fizemos infinitos planos, mirabolantes, surreais, mas que para nossos corações apaixonados eram lindos, tangíveis.
Não duvido que realmente estávamos apaixonados, mas acho que deixei de acreditar no amor verdadeiro, daqueles de filme, a essência pura do sentimento.
Espero que o tempo me mostre estar errado.
Terminamos ontem, foram quase seis meses. Ele me disse que desejava outras pessoas, que ele não tinha vida, que eu o sufocava. A justificativa que ele me deu é que ele só tem dezenove anos, e é normal alguém da idade dele sentir essas coisas. Compreensível, mas se ele sabia que era assim, por que aceitar namorar alguém? Por que fazer juras de amor e dizer que quer se casar com você? Por que, por que, por que, são muitos porquês e poucas respostas, mas aprendi que o bonito da vida é viver o momento, não colocar expectativas, seguir o fluxo e acima de tudo, não colocar ninguém acima de você próprio. Acho que no decorrer dos anos aprendi a lidar melhor com as perdas, me sinto triste, sinto falta dele, mas já não é como antes, nem uma lágrima escorreu dos meus olhos e acredito que nem vá e isso não me torna frio, tampouco quer dizer que eu não me importava com ele, só quer dizer que, para mim, o sofrimento só não vale a pena quando não aprendemos nada com ele.
Por Davi.
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