sexta-feira, 23 de abril de 2010

Raízes

Não escrevi semana passada porque a criação desta crônica me levou mais tempo, queria ter um tempo maior para pensar e amadurecer algumas idéias e pensamentos, colocar alguns sentimentos em ordem e transmiti-los de uma maneira mais acurada.

Continuo tomando meus antidepressivos, não que eu ainda esteja tão mal a ponto de precisar deles, mas eles me ajudam a pensar.
Eu não achei a pessoa que vai me ajudar a ser feliz, aquela pessoa com quem dividirei a vida, por quem eu darei a minha própria vida.
Não tinha mesmo esperança de achá-la em duas semanas, não tinha ao menos esperança de sequer achá-la, mas nunca desisto de procurar.
Olhos abertos e coração pronto para outra.
Ainda não superei o trauma do último término, mas isso vai acabar amanhã, o teste final está por vir e eu sei que passarei por ele, ainda mais forte do que antes.
Nessas duas semanas fiquei me perguntando o que nos leva a cometer tantos erros, a aceitar coisas que sabemos que não são boas, a nos relacionar com pessoas que não vão nos trazer nada, mas sofrimento.
Cometi muitos erros tão conhecidos por mim que sinceramente não sei por que ainda os cometo, mas também acertei em pontos que errava antes. Já é um progresso.
Encontrei pessoas que me fizeram curtir a noite e por uma delas eu pensei ser válido uma tentativa.
Não deu certo.
Mas eu não me decepcionei, não sei se foi por que aprendi ou por que já estou decepcionado demais.
Conheci e me relacionei com pessoas totalmente inúteis para mim, mas valeu o momento.
Tive muitos momentos de reflexão, que vieram de um encontro totalmente inesperado, surreal, mas que me fizeram entender muitas coisas que eu não acreditava serem passíveis de compreensão, e hoje são esses momentos que quero compartilhar com vocês.
Era domingo, o dia estava lindo com o sol brilhando na imensidão azul de um céu sem nuvens, eram sete e meia da manhã e eu tinha acabado de sair de mais uma balada onde tinha experimentado várias pessoas diferentes e não encontrado nenhuma que me fizesse esquecer o sofrimento que estava passando.
Tinha me despedido do meu melhor amigo dispensando-o do combinado que era ele ir para minha casa dormir comigo. Ele ficou triste, mas eu precisava ficar sozinho. Mais sozinho.
Sentei no gramando de uma praça perto da balada, muitas pessoas caminhavam, corriam e faziam seus exercícios matinais, vi muitos casais, jovens e não tão jovens, passeando de mãos dadas e sorrindo. A visão partiu meu coração.
Abaixei a cabeça e comecei a chorar,, não um choro desesperado, mas um choro de tristeza em que as lágrimas rolavam incessantes e silenciosas pelo meu rosto cansado e deprimido.
Não percebi a aproximação daquele anjo até que senti sua mão repousar sobre meu ombro e sua voz, doce, calma e zelosa falar comigo.
“Por que está chorando? Lágrimas não ficam bem em um rosto tão bonito”
Eu apenas olhei, dei um singelo sorriso, não sabia o que dizer para aquela estranha senhora que falava comigo. Pensei em levantar e ir para longe da intromissão daquela pessoa que nem conhecia, mas algo me impediu e eu respondi:
“Ah, não é nada, vai passar, são só problemas”
Fiquei ainda mais surpreso quando ela se sentou ao meu lado, no chão, e me passou os braços sobre o corpo, me envolvendo em um abraço tão acolhedor que jamais senti algo parecido.
Agora as lágrimas tinham som e eu soluçava e tudo o que a senhora fazia era me abraçar. Me entreguei àquele momento e senti toda a paz de seu abraço, da sua amizade e carinho, daquele gesto tão peculiar e inusitado.
Ficamos assim não sei por quanto tempo e ela não proferiu palavra alguma, apenas me abraçava, então senti uma ânsia enorme de desabafar tudo o que estava dentro de mim.
“Eu não agüento mais passar por todos esses problemas que tenho enfrentado, todas essas decepções. Eu penso em desistir de tudo, de todos e acabar com todo esse sofrimento de uma vez por todas. Eu sinto tanta falta dele.”
Ela me encarou por vários minutos e apesar de eu estar chorando aquela presença me transmitia uma paz que nunca mais queria perder. Então, depois de muito tempo, ela falou:
“Em um certo dia de primavera dois passarinhos voavam livremente por um belo campo e cada um deles trazia uma sementinha em seus bicos. Eles as depositaram lado a lado no vasto solo verde do belo campo e voaram pra bem longe. As sementinhas penetraram na terra e uma delas, de samambaia, cresceu tão rápido que logo se podia ver muitas mudas por todo o campo. Os passarinhos voltavam todos os dias para o campo e o que plantou a sementinha de samambaia chilreava feliz dando rodopios em seu vôo elegante e o outro só olhava, lá do alto.E nem sinal da outra sementinha. Passaram-se algumas semanas e o vasto campo foi todo tomado por mudas lindas de samambaias verdes e fortes, mas nada da outra sementinha. Até que um dia, bem no meio do mar de samambaias, podíamos ver uma mudinha, pequenina e frágil, crescendo lentamente. O pássaro que antes voava silencioso começou a chilrear. E assim foi por muitas semanas, as samambaias cresceram mais e mais tomando todo o campo e todo o horizonte e a mudinha, antes pequenina no meio da floresta de samambaias, cresceu para se tornar um belo e forte bambu. Os passarinhos estavam felizes da vida e o dono das samambaias se gabava de ter uma floresta enquanto o outro só tinha um bambu. Um dia veio uma tempestade, cheia de raios e trovões, e um vento forte passou pelo belo campo arrancando todas as samambaias que estavam lá. O bambu balançou, perdeu algumas folhas, quebrou alguns galhos, mas não caiu. Quando a tempestade passou só se podia ver o bambu e as folhas mortas das antes lindas samambaias por todo o belo campo. As samambaias cresceram rapidamente de novo, mas toda vez que passava uma tempestade acontecia a mesma coisa; as samambaias morriam e o bambu, embora machucado, continuava lá, solitário, mas firme.”
Eu fiquei vários minutos tentando entender como aquilo fazia algum sentido com o desabafo que tive com a velhinha, e ela percebendo minha dúvida logo explicou:
“Meu filho, as samambaias cresceram rapidamente e tomaram todo o campo só para elas, mas toda vez que vinha uma tempestade elas eram levadas e morriam e sempre cresciam da mesma forma rápida e morriam de novo com uma nova tempestade. O bambu levou mais tempo para crescer porque ele estava criando raízes profundas e fortes, assim quando a tempestade chegava ele se machucava, perdia algumas partes, mas não caía. É a mesma coisa com a nossa vida, meu lindo menino, nós não podemos crescer rápido e desordenadamente porque até podemos construir um belo campo, mas quando a tempestade vier tudo será levado, temos que ser como o bambu, que não teve pressa e criou raízes capazes de enfrentar a tempestade e sobreviver a ela. Pense que se você fracassou desta vez é porque não tinha a raiz necessária para agüentar essa tempestade, mas agora que é mais experiente e aprendeu, criará raízes para ficar mais forte e não cair quando a próxima tempestade vier. E a cada tempestade suas raízes ficarão mais e mais fortes, assim como você”
Ela se levantou, me deu um beijo no rosto e se foi.

7 comentários:

  1. Cada vez melhor! Keep up the good work! xx

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  2. Qdo conta do lugar e descreve o acontecimento, eh como se eu estivesse por perto vendo a cena...muito loko!

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  3. Se melhorar estraga...e viva a simpática senhorinha!!!

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  4. Uma excelente escrita... e percebo que não apenas uma historia... mas todo um processo de elaboração e vivencia conectando o texto e nos permetindo fazer parte dele... e muitas vezes como todos nós nos sentimos sozinho, conseguimos nos projetar para dentro do que nós é narrado... realmente as vezes a palavra é falta... (não diz tudo que queremos dizer) mas um abraço acalma toda a alma e nos permite nos sentirmos mais vivos... e acredito que existe pessoas que são como "anjos"... mas que se asas... e seus abraços são como as asas dos anjos a nos envolver.


    abraços Emanoel

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  5. Nossa linda a historia..como jah te disse hj..essa historia bate bastante oq estou passandoo...oq me ajudouu muito,muito mesm...sempre vou vim aki no seu blog ler uma historia...esta de parabens...continue assim ^^

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  6. bela historia temos sempre momento dificeis na vida e precisamos de uma pessoa pra nos confortar msm sendo uma pessoa desconhecida...
    as vezes um gesto vale mais q td essa senhora pode sim ser um anjo na sua vida e oq ela te disse é a realidade de quem sonha um dia ter um amor verdadeiro com quem vc possa compartilhar a sua vida e seus sonhos ...
    bjão c cuida e escreva sempre q poder hj vc alegrou meu dia...
    obrigada ♥

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  7. gente que coisa mais linda! essa mulher foi um anjo nesse momento pra vc, hein! é supreendente como encontramos pessoas assim quando a gente precisa, e essa história do bambu é incrível, me fez refletir sobre coisas que estava pensando também, adorei! desejo que vc consiga tomar essa vivência como uma forma enriquecedora pra sua vida! muitos beijos!

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