domingo, 14 de março de 2010

E lá vou eu outra vez...

Sabadão e estou aqui, em casa, com um copo de whisky numa mão e um cigarro na outra, o MSN ligado combinando com os amigos qual será a boa da noite.
Balada.
Mais uma vez.
Não que eu não goste, mas me incomodam os olhares vorazes de quem olha pra tua bunda antes de olhar tua cara.
Fazer o que, como diz um amigo, é o que tem pra hoje!
Tomo banho, arrumo meu cabelo, passo um pó para esconder as marcas de um rosto jovem que se sente velho.
Tenho 25 anos, mas a vida de um cara velho assim não é exatamente fácil num lugar onde a jovialidade é a sua principal beleza. Você pode ser inteligente, ter visitado outros países, conhecer as escrituras de Nietzche e Schopenhauer, ter lido Dostoievski e Platão, mas a moda é ser jovem e fútil, ter conteúdo não é mais opção.
Ok.
Fazer o que?
Vamos seguir o fluxo, não que isso seja bom, mas também preciso de alguém.
Chego na balada e o lugar está cheio, como sempre, nem mal dei dois passos e alguém, descaradamente, me passa a mão.
Comecei bem.
Minha bunda ainda faz sucesso.
Caminho entre as pessoas, olhos de águia procurando uma presa, confesso que mesmo sabendo que é quase inútil, ainda tenho a esperança de achar um colibri no meio do bando de urubus.
Meus olhos cruzam com os de um menino.
Ele olha de volta.
Parece legal, bonito.
Olho para o corpo dele, eu não sei se sou igual aos outros ou a vibe do lugar que faz com que você tenha quase as mesmas atitudes.
Não me importo.
Vamos seguir o fluxo.
Continuo andando, passo pelo monte de corpos suados, uns já até estão despojados de algumas de suas vestes, exibindo seus corpos suados e de linhas nem sempre bem torneadas.
Ok, está calor, mas por favor, mantenhamos o pudor.
O cheiro de homem impregna o lugar. Não, não de homem, de sexo!
Vou pegar outra bebida e esse é o primeiro final de semana que a nova lei antifumo está em vigor.
Tenho que ir lá fora fumar.
Saindo eu vejo o mesmo garoto que olhei antes.
Ele me olha de novo, eu retribuo, sorrio.
Pego na mão dele e ele me puxa e me beija intensamente, como um casal apaixonado que se reencontra depois de um ter ficado semanas fora trabalhando.
Passamos a noite inteira juntos. Cantamos músicas um no ouvido do outro. Ele diz que não acredita que está ficando comigo, que sou lindo demais, que sou o anjo dele.
Eu acredito afinal o que mais me resta fazer?
A noite passa rápido e eu aproveito cada momento, cada beijo, escuto cada palavra proferida com o coração batendo acelerado.
Poucas horas e estou apaixonado de novo. Nessas horas que penso ser o cara mais idiota do mundo, sempre me dei mal com essa minha atitude auto-destrutiva que é mais uma afronta insana à minha inteligência, mas ele é tão bonitinho. Irresistível.
No táxi para casa vou pensando no lindinho de 19 anos (tenho queda pelos novinhos) que prometi telefonar no dia seguinte. E já estava ansioso para ligar e tê-lo mais uma vez nos meus braços.
Já planejava qual cor seria o terno que usaria no casamento com ele.
Exagerado? Pode ser, mas sou capaz de jurar que penso assim todas as vezes que encontro alguém novo.
Burro? Talvez.
Ainda prefiro pensar que só tenho a deficiência de ser um sonhador compulsivo.
Como disse Quintana no seu homônimo poema chamado Esperança “(...) meu nome é ES-PE-RAN-ÇA”
Encontro com ele diversas vezes ao longo da semana, mesmo ele morando em uma cidade vizinha e nenhum de nós termos carro, damos nosso jeitinho.
Cada dia me apaixono mais e já penso em namorar.
Sábado chega e está combinado de nos encontrarmos na mesma balada. Espero algumas horas e ele chega. Beijo-o calorosamente. Ficamos assim por um bom tempo e decido partir para a conversa final.
- Não quero mais ficar com você! – disparo-lhe as palavras com a intenção premeditada de causar impacto.
Ele me olha espantado e pergunta:
- Não quer mais ficar comigo?
Era capaz de jurar que vi os olhinhos dele se encherem de lágrimas.
- Não – manti a firmeza na voz. Não queria estragar a surpresa – Você quer namorar comigo?
Ele sorri e me abraça. Olhando nos meus olhos me diz que sim.
Decidimos sair da balada e ir para minha casa consumar o relacionamento.
Que sexo! O melhor que já fiz! Estava mais e mais apaixonado.
Com o passar dos dias já começaram as brigas. Sou ciumento. Muito ciumento. Doente.
Ele quer sair de madrugada com os amigos. Não, namorado meu não faz isso.
E lá estava eu cometendo os mesmo erros de novo. Tento me controlar, mas não consigo, e no auge da briga ele diz: “Eu te amo”.
Derreti e paramos de brigar. Ai, que bom é ouvir essa frase.
Duas semanas de namoro. Três que o conheço. E já nos amamos.
Lindo!
Acho interessante essa versatilidade dos jovens em amar alguém e dois dias depois não amar mais. Se seguirmos a linha de raciocínio da modernidade seremos capazes de entender, afinal se a vida é cada mais rápida, porque os sentimentos não o podem ser?
Boa pergunta, mas sem a loira bonita do comercial de cervejas. Pena.
Nos meses que seguiram trocamos muitas carícias, brigamos muito, terminamos uma vez para dar o tempinho de pegarmos outros corpos, e depois de 10 dias retomamos o amor, inabalável, por assim se dizer.
Viajamos, fizemos infinitos planos, mirabolantes, surreais, mas que para nossos corações apaixonados eram lindos, tangíveis.
Não duvido que realmente estávamos apaixonados, mas acho que deixei de acreditar no amor verdadeiro, daqueles de filme, a essência pura do sentimento.
Espero que o tempo me mostre estar errado.
Terminamos ontem, foram quase seis meses. Ele me disse que desejava outras pessoas, que ele não tinha vida, que eu o sufocava. A justificativa que ele me deu é que ele só tem dezenove anos, e é normal alguém da idade dele sentir essas coisas. Compreensível, mas se ele sabia que era assim, por que aceitar namorar alguém? Por que fazer juras de amor e dizer que quer se casar com você? Por que, por que, por que, são muitos porquês e poucas respostas, mas aprendi que o bonito da vida é viver o momento, não colocar expectativas, seguir o fluxo e acima de tudo, não colocar ninguém acima de você próprio. Acho que no decorrer dos anos aprendi a lidar melhor com as perdas, me sinto triste, sinto falta dele, mas já não é como antes, nem uma lágrima escorreu dos meus olhos e acredito que nem vá e isso não me torna frio, tampouco quer dizer que eu não me importava com ele, só quer dizer que, para mim, o sofrimento só não vale a pena quando não aprendemos nada com ele.
Por Davi.
Comentem!

13 comentários:

  1. São lindas palavras de uma GRANDE história !

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  2. Essa história está demais! A forma como foi contada me fez vivenciar um pouquinho disso tudo através dos seus olhos! E digo que é isso aí, a gente sente que a vida vale a pena em momentos assim como esse! Que infelizmente acabam, mas é aquela frase né, "o doce não seria tão doce sem o amargo". Beijos querido!

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  3. Seu guarda eu não sou vagabundo, eu não sou deliquente, sou um cara carente, eu dormi na praça, pensando nelaaaaaaaaaa. (8) HAHAHAHAH. Pois é, essa história está maravilhosa, mal posso esperar pelos próximos capitulos.

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  4. Mau, my dear!!!
    I simply LOVED your text!!!
    Eu sei bem como é tudo isso...e posso dizer que tudo passa!!
    Parabéns pela facilidade com que escreve e exprime seus sentimentos!
    Keepup the good work!!
    CYA

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  5. adoreii seu texto, a forma como vc escreve e como tem um pouquinho de td mundo e mto de mim nele.
    nao esquece de me avisar qnd escrever mais aqui.
    bjos...e saudadess

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  6. duas palavras: lindo,e lindo *-*

    Marina :P

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  7. Pois é Mau...infelizmente hoje em dia parece que amar e desamar é muito fácil.... acho q apesar de sermos meio que obrigados a seguir o tal fluxo,não podemos esquecer nossos valores. E apesar da dificuldade, devemos sim escolher melhor com quem nos relacionar. A gente acha o que procoura!
    Mari

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  8. Além de tudo ainda sabe escrever? rs

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  9. ée´, não se fazem mais pessoas como você :/

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  11. A maturidade custa caro, mas vale a pena,não? Feliz em ver como vc tem encarado as adversidades com mais serenidade

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  12. parabéns adorei me indentifiquei muito com essa historia...
    fico muito bem escrito não encontraria uma forma melhor pra ser contada

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  13. Oi Mauricio!!!! Adorei o texto!!!! Parabens!!!!bjooooo

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