segunda-feira, 3 de maio de 2010

Liberte-se

Era uma noite tão escura quando as estrelas não sorriam no céu que eu mal podia enxergar um palmo a minha frente. Só escutava o som seco das lágrimas que rolavam incessantes pelo meu rosto e a quase inaudível súplica que fazia a quem quer que quisesse me atender: “Me ajude, me ajude, me ajude...” Era só o que eu repetia continuamente.
O aperto no coração era tão familiar quanto o seu sorriso que via em todos os rostos das pessoas que encontrava durante o dia. Cada memória era como uma lâmina penetrando fundo no meu coração.
Eu era qualquer coisa, menos humano, o vazio não era só de sentimentos; era um vazio de alma.
Sentia um frio percorrendo todos os cantos do meu corpo inócuo enquanto olhava o nada se estendendo a minha frente. E nesse nada que eu vi um vaga-lume entrar no meu quarto e parar bem em cima de mim, lá no alto do teto, mas era um vaga-lume estranho, ele não piscava, era só um brilho intermitente.
Fiquei olhando aquele brilho que me cegava tentando entender o que estava lá e por uns minutos pensei que era o brilho que tinha nos meus olhos quando eu te olhava, aquele mesmo brilho que há muito havia fugido de mim me deixando perdido na luz da minha própria escuridão tempestiva.
O vaga-lume não se movia, continuava parado como se me observando e de alguma maneira eu comecei a ter devaneios que me causavam medo. Por muito tempo fiquei encarando o brilho e ele começou a voar novamente, mas não estava procurando a saída e sim descendo para mais perto de mim.
De repente o vaga-lume aumentou de tamanho e virou uma luz intensa e quando o brilho baixou e meus olhos se acostumaram com sua repentina aparição eu a vi; a minha fada madrinha.
Completamente estático eu via cada vez mais nítida a imagem da fada à minha frente e demorei a acreditar que não estava louco.
Podia sentir todo seu perfume de rosas frescas do primeiro dia de primavera e quando ela abriu os doces lábios para falar comigo eu me deliciei com a suavidade de sua fala mansa.
“Doce menino, o que posso fazer para enxugar esses olhos repletos de tristeza?”
Era muito difícil acreditar em tudo o que estava acontecendo e minha confusão se intensificou
"Quem é você? É difícil acreditar"
"Claro que gostaria que desaparecesse, mas eu já desisti - respondi ainda mais rispidamente. E apesar de minhas asperezas a fada permanecia com um meio sorriso e sua fala mansa transmitindo paz e conforto. Sua voz era como o melhor calmante e seus olhos o poço de sabedoria. Estava disposto a acreditar, afinal já acreditara em tantas outras coisas absurdas que mais uma não poderia fazer mais mal. - Preciso de uma prova. Quero que me dê o nome do meu sofrimento."
"Acredito que você não vá gostar de ver o nome, mas vou te dar porque me pediste - e com sua varinha ela desenhou o nome no escuro e ele brilhava como estrelas - DAVI."
"Não entendi nada, ou talvez tenha entendido, mas o que quero é o nome da pessoa por quem estou sofrendo"
Estava cada vez mais impaciente e desejava que ela sumisse tão logo quanto apareceu, mas algo em mim queria acreditar, queria que ela ficasse e me ajudasse. Não me restava nada a não ser ter esperanças de que ela podia.
Dessa vez ela não desenhou o nome com estrelas brilhantes, mas num sorriso fez sua voz ecoar por todos os cantos do quarto e em sussurros eu escutava o nome.
Fiquei estático.
Agora eu acreditava, não tinha como ser diferente. Podia estar alucinando e não duvidava nem um pouco disso, mas esta possível alucinação estava me respondendo e eram respostas que me faziam enxergar algumas coisas difíceis.
"Mas... mas... é tão difícil acreditar - gaguejei - Você é mesmo minha fada madrinha? Daquelas de contos de fada? Você está olhando por mim?"
"Se você acreditar que eu existo, eu existo. E posso te ajudar a se sentir melhor"
" Aceito! aceito! É tudo o que mais quero, é o que eu mais preciso - chorei - mas o que você pode fazer por mim?"
Ela disse que me concederia um desejo e que o escolhesse com cuidado. Eu já sabia o que eu queria e prontamente respondi:
“Eu já sei, fada-madrinha, eu quero uma pessoa que me entenda, que me ame acima de tudo, que me respeite, que cuide de mim, que me faça ser o mais feliz do mundo e que fique comigo para toda eternidade no mais verdadeiro e puro amor”
Ela me olhou, sorriu e voou rodopiante pelo quarto deixando um rastro de estrelas brilhantes como a cauda de um cometa. E então ela girou sua varinha de condão e meu pedido caiu na minha cama, do meu lado.
Fiquei confuso, peguei o pedido e a muito custo desviei meus olhos da chuva de estrelas. O que vi me deixou perplexo
Um espelho.
"Um espelho? - perguntei desolado - Mas por que um espelho?"
O semblante da fada se tornou sério, mas não menos apaziguador, e ela me respondeu com firmeza, mas delicadamente.
“O que você está vendo nesse espelho?”
“O que todos vêem quando olham para um espelho – respondi sem esperanças – meu reflexo.”
"Esse é você. O único que pode mudar sua atual situação. O único que pode te tirar da tristeza, te fazer feliz. Sua felicidade só depende dessa pessoa que está a sua frente; você mesmo. Quem vai te amar acima de qualquer coisa? Quem irá te compreender? Te fazer feliz? Só você, só se você se permitir. Os outros podem lhe proporcionar alegrias ou tristezas, mas só quem pode permitir se isso irá entrar é você mesmo. Você tem o poder, é a pessoa mais importante e capaz de te fazer feliz."
Eu alternava o olhar da fada para o espelho e assim fiquei por muitos minutos.
Ela desceu ainda mais, enxugou uma lágrima solitária no meu rosto, olhou bem fundo nos meus olhos e perguntou:
“Quem é você?”
Subiu rapidamente, voou de um canto para o outro fazendo chover mais estrelas e dando uma gargalhada musicada, e assim ela sumiu, tão rápido como apareceu.
Continua...

Devo primeiramente agradecer a ajuda da minha querida leitora e muito amiga, Anna Fred, que sem sua inestimável ajuda não poderia ter criado esta que considero minha melhor crônica e sem a qual meus dias seriam muito menos felizes.
Também anunciar o vencedor do desafio, que mais se aproximou da resposta que eu esperava e que também me foi fonte de grande inspiração; Jacobs do www.alreadyevil.blogspot.com, o qual eu recomendo.
E por fim dedicar mais esta crônica a todos os meus leitores e amigos que me dão mais uma razão para continuar vivendo e compartilhar estas histórias.
Meu imenso carinho a todos e não percam a próxima!
By Davi e Anna Fred.

8 comentários:

  1. Que linda história! Isso é uma tomada de consciência incrível e reveladora! Parabéns! beijos!

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  2. Ai, eu ganheeeei, que emo.ção. Obrigadcheenho pelo merchan básico, hahahaha. Enfim, amei a crônica, amei mesmo e quero uma continuação imediatamente, ok

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  3. gostei cara, realmente uma verdade absoluta, a unica pessoa que guarda a nossa felicidade, somos nós mesmos, parabens e continue postando

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  4. Uau, uau, uau. Sem palavras! Você é um espelho a ser seguido. Parabéns!

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  5. meoooo to passada.... mto boa essa crônica!!!!! sem palavras....

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  6. Incrível, gostei. É já diziam: "o primeiro e último amor é sempre o próprio". A verdade é essa, porém muitos ainda preferem jogar a culpa no próximo.
    Abraços!

    Dá um pulo na minha janela depois...
    Thales Willian

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  7. parabéns linda cronica ...
    mais posso dizer q quem te conhece não se espanta com sua capacidade de criar ...
    suas cronicas estão cada dia melhores, mais não pq as anteriores foram ruins mais sim pq estam sendo lapidadas como um diamante ...
    bjão c cuida sdds

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  8. É uma excelente crônica, toque genial do espelho.
    Jefhcardoso do
    http://jefhcardoso.blogspot.com

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